segunda-feira, maio 16, 2011

BRs têm 21 pontos de maior perigo.

Trechos bem conservados próximos a grandes centros urbanos são os mais perigosos dos 3,5 mil quilômetros da malha viária federal do Paraná. Levanta­mento feito pela Gazeta do Povo com base em dados de 2010 do Departa­mento Nacional de Infra­estrutura de Transportes (Dnit) re­­velou 21 pontos com grande incidência de colisões e atropelamentos, além de outros 12 no caminho até São Paulo e Florianópolis, as capitais mais próximas de Curitiba. Ao todo, os 21 trechos paranaenses somaram 5,1 mil acidentes e os catarinenses e paulistas alcançaram quase 6,3 mil ocorrências.

Nas áreas mais perigosas, um dos fatores responsáveis é o traçado das estradas passar ou dividir cidades, ampliando seu tráfego no perímetro urbano. A BR-277, na saída de Curitiba para Ponta Grossa, é exemplo disso. A CCR Rodonorte, concessionária administradora do trecho, informa que a média de circulação diária entre os quilômetros 94 e 114 (do Parque Barigui a Campo Largo) é de 54 mil veículos, número equivalente ao tráfego no restante da rodovia no feriado de Páscoa. Com base no levantamento, os 10 quilômetros a partir do parque registraram 237 acidentes.

Paraná é o 3º do Brasil em óbitos em rodovias

O Paraná é o terceiro estado do Brasil em número de mortos em estradas, atrás apenas de Minas Gerais e Bahia, estados reconhecidos pela extensão da malha viária. Embora tenha crescido em 21% o índice de acidentes e de mortes de 2009 para 2010, o estado apresenta condição menos violenta que à encontrada no país.

Conforme o inspetor Wilson Martines, da PRF, a morte no trânsito depende do chamado “minuto de ouro” ou “hora de ouro”. “Cada minuto após o acidente, potencializa o risco de morte. Quanto antes ocorrer o socorro, maior a chance de preservar a vida”, diz. A diferença, segundo o inspetor, se deve ao uso do helicóptero da corporação. Em 2009, foram 462 resgates, contra 427 no ano passado –, mas o veículo permaneceu por três meses sem voar.

Vale ressaltar, no entanto, que, as estatísticas da PRF divulgadas pelo Dnit, consideram o óbito do acidente apenas quando a pessoa morre no local ou durante o atendimento. Se falecer após ser encaminhada ao hospital, não consta no levantamento.

Melhorias

Investimento cresceu, mas não é suficiente

Cresceu em 929% o investimento do Dnit na conservação e restauração de rodovias em nove anos. De R$ 10,6 milhões em 2002, o valor investido no ano passado saltou para R$ 109,3 milhões. A manutenção consiste em trabalhos mais simples, como roçada, tapa-buracos e pintura, além da conservação da sinalização horizontal e vertical. A restauração se trata de trabalho mais complexo, como a troca de pavimento, correção do traçado de uma curva e a execução das chamadas obras de arte (tubulações, viadutos e pontes). O Dnit admite que orçamento não é suficiente para todas as rodovias.

Treze estradas receberam melhorias no ano passado. Ao todo, aproximadamente 1,2 mil quilômetros sofreram intervenções. O maior valor – de R$ 15 milhões – foi destinado à BR-487 entre Cruzeiro do Oeste e Campo Mourão. Conforme o órgão, são usados critérios técnicos na escolha da via, como o histórico, as previsões iniciais do projeto, o interesse social e econômico, além do tráfego e número de acidentes registrados.

O inspetor da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Wilson Martines aponta a dificuldade de fiscalização no perímetro urbano das grandes cidades, como em Maringá, onde a BR-376 em dois quilômetros se transforma em uma avenida. “Estamos fazendo convênio entre a PRF e a prefeitura para que o município possa exercer a fiscalização. No entanto, a AGU [Advo­cacia-Geral da União] e o TCU [Tribunal de Contas da União] exigem parâmetros bem elevados”, diz. “Às vezes, por causa de pequenos detalhes, esses contratos deixam de ser celebrados”, explica.

Causas

Nem mesmo a melhoria na conservação das estradas com as concessões federais diminuiu as ocorrências no Paraná. Segundo o Dnit, em 2009, o Paraná registrou 56,2 mil acidentes, com 559 óbitos no local. No ano passado, foram 71,2 mil acidentes e 708 mortes. O acréscimo de 21% no índice de acidentes em um ano é três vezes superior ao aumento da frota do estado, que subiu 7%. Por isso, um dos problemas encontrados é justamente a fiscalização. Em 2009, devido à ação do Ministério Pú­­blico Federal, a PRF aumentou sua malha de atuação de 1,1 mil quilômetros para 3,5 mil.

Com maior extensão, não houve compensação do efetivo. “O contingente policial está abaixo do necessário. O número ideal seria de 1,1 mil ou 1,2 mil e hoje contamos com cerca de 750 policiais”, diz Martines. A necessidade de vigilância tem o objetivo de frear o principal responsável pelos acidentes: os motoristas. “Houve melhora da rodovia e dos veículos, e os acidentes continuam. Hoje, o conforto cria ambiente de monotonia no veículo, levando ao relaxamento”, diz Altamir Coutinho, perito criminal e chefe da Seção de Locais de Acidentes de Trânsito do Instituto de Criminalística do Paraná.

Há consenso entre policiais e quem atende às vítimas de acidentes que, das três possíveis causas de um acidente (rodovia, automóvel ou condutor), a maior possibilidade de erro é de quem está ao volante. “Quando a estrada está em má conservação, os acidentes causam menos danos porque acontecem em menor velocidade. Quando existem melhores condições, ocorrem abusos”, diz Martines.

Coutinho, contudo, ressalta que nem sempre um fator isolado consegue esclarecer as ocorrências. Nas rodovias urbanas, a grande presença de aglomerações urbanas tende a potencializar o risco de atropelamentos, como na BR-277 na saída para o litoral. “Investir em educação e campanhas parece algo repetitivo. Mas há fundamento nisso porque transforma a mentalidade das crianças, o que acaba, muitas vezes, chegando ao adulto”, diz Coutinho.

Desatenção e pressa

Psicóloga e mestre em Psicologia sobre Danos Psicológicos de Acidentes de Trânsito, Fabíola Garcia da Silva Merisio argumenta que como as rodovias federais são em sua maioria duplicadas fazem com que os condutores se sintam mais seguros, desviando a atenção a outros recursos, como o celular ou o DVD automotivo. “É nesse momento em que as pessoas se desligam, acham que conhecem a estrada e não evitam os acidentes”, explica. Outro fator preponderante, na avaliação da psicóloga, é a pressa em chegar ao destino e o foco em resolver ou planejar atividades secundárias.

Fonte: Gazeta do Povo 16/05/2011

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